25 de set. de 2019

adivinhando o pensamento parte 2 - a opinião de Māshā'allāh

o que será apresentado aqui é uma coletânea de técnicas de interpretação do pensamento do consulente em horárias, se valendo de três autores:

  • Hephaistio de Tebas, no seu Apotelesmatica volume 1
  • Māshā'allāh, no seu livro "Sobre a interpretação da cognição", presente no texto Works of Sahl & Māshā'allāh,
  • Hermano de Caríntia, no seu livro "Em busca do coração" (ingl. in the search of the heart).

Essa primeira parte é dedicada a Māshā'allāh, o único a expor com mais detalhes.

Mas antes, vamos mostrar um trecho muito interessante, que seriam as justificativas para se adivinhar o pensamento do consulente, segundo Māshā'allāh:

  1. Primeiro, por qual razão o questionador veio, de modo que você saiba sobre o que ele está questionando.
  2. Segundo, que você saiba a causa da questão
  3. Terceiro, que você saiba se ela será levada à perfeição ou não, e qual fim terá.

1 e 2 praticamente são a mesma coisa, na maior parte das vezes. Eventualmente, não: o questionador pode fazer a questão por uma causa principal, mas ele pode ter adiado a questão por dias ou meses, até que pode ter havido algum evento que foi 'a gota d'água' que gerou o ímpeto de vir ao astrólogo pela causa primária.

A técnica de Māshā'allāh

Antes de dar o procedimento, vou citar a observação de Māshā'allāh de que a intenção mais sincera é aquela que o questionador tiver no seu coração por um dia e uma noite, ou seja, o consulente deve estar 'ruminando' a questão por no mínimo 24h. Portanto, é essa a intenção que a técnica pretenderia descobrir.

Māshā'allāh nos pede que olhemos:

  1. Ascendente e seu regente
  2. Lua e seu regente
  3. Sol e seu regente
  4. Regente da hora em que é feita a questão
  5. Lote da Fortuna

Devemos operar por aquele que tiver o maior número de autoridades no local onde se encontra - provavelmente ele fala de dignidades - e que estiver no melhor local - aqui, as casas lucrativas levam vantagem sobre as casas cadentes e que não aspectam o Ascendente.

Se os candidatos acima não tiverem condições de assumirem (por estarem sem nenhuma dignidade e tampouco numa casa lucrativa), Māshā'allāh orienta buscar os outros regentes do Ascendente - exaltação, termos, triplicidade e face - e ver qual deles tem maior autoridade no grau do Ascendente. Esse almuten deve também estar num bom local.

Ele dá exceções ao algoritmo acima:
  • Se o regente da exaltação do Ascendente estiver no Ascendente, deve-se operar por ele. 
  • E se tanto o regente do Ascendente quanto o regente da exaltação estiverem ali, deve-se operar pelos dois, sendo o regente da exaltação um participante da questão, alguém que dá informações complementares. Mas aquele que tiver mais dignidades no grau onde estiver será o principal. 
  • Ou será o principal aquele que receber o aspecto de algum planeta com dignidade no Ascendente (o que performa recepção), ou aquele ao qual a lua se aplicar. 

Note que essas duas últimas condições, no contexto em que foram citadas, se aplicariam quando o regente da exaltação ou do domicílio estiverem no Ascendente. Logo em seguida, porém, ele usa isso no seu exemplo para planetas em qualquer casa. Veremos a seguir.

No final dessa ampla lista de condições e procedimentos algoritmicos, Māshā'allāh simplesmente joga a toalha e diz que, não havendo nada que se aplique a isto, que escolhamos o planeta mais forte na figura - aquele que estiver angular e dignificado. Por que essa última condição? Porque pode acontecer desse planeta não ser um dos que compõem a lista de cinco itens acima (Regente do Ascendente, Sol e seu regente, etc.).

Após uma eleição que deixaria o segundo turno brasileiro no chinelo, vem a revelação: o planeta do qual o significador eleito se separa é a causa da intenção de se ter perguntado, enquanto o planeta ao qual se aplica é o futuro da intenção. Perceba que ele não diz em tempo algum que essa análise leva em conta o desfecho real da questão, mas sim apenas o desfecho da intenção. Se fosse assim, teríamos de usar esse procedimento para saber o desfecho de qualquer horária, e a prática nos mostra que o procedimento, quando se trata de saber o futuro do que se é perguntado, é muito mais simples: olhar apenas o regente do ascendente e a lua, os planetas aos quais eles se aplicam ou recebem aplicação, e nada mais.

Após discorrer sobre o tema, Māshā'allāh dá um exemplo no qual ele considera o significador da intenção como o próprio significador do nativo, como se fosse uma horária comum! Parece confuso, mas ficará claro depois.

O exemplo foi provavelmente calculado em 14 de julho de 799, mas o importante não é o que estava realmente nos céus, e sim o que o astrólogo acha que viu no mapa:


Māshā'allāh escolhe como significadora da intenção a Lua em Libra, por dispor da regente do Ascendente Touro, Vênus em Câncer. 

Por que Māshā'allāh escolheu um planeta cadente? Ele diz no próprio texto que devemos considerar planetas que estejam recebidos e/ou estejam em aspecto com a Lua. Aqui, temos os dois casos: Vênus está cadente, mas (1)recebe aplicação da Lua e (2)é recebida, o que nos dá os dois critérios simultaneamente. Só que a Lua também tem os mesmos critérios! Ela é recebida pelo regente do Ascendente e é dispositora do mesmo! Nesse caso, Māshā'allāh usa a lua como principal significadora da intenção e coloca Vênus como uma participante, que assistirá a Lua com informações. Māshā'allāh usará Vênus como um referencial de derivação de casas, como veremos a seguir.

Note que o regente do lote da Fortuna, Saturno, está angular e em Leão, signo da sua triplicidade, mas não tem a sorte de ser recebido pelo seu regente, o sol (que pelo menos não está na figura, mas uma coisa é certa: 14 de julho, o sol está em câncer) e tampouco ser aspectado com a mesma proximidade que a lua tem de Vênus.

Perceba que Māshā'allāh não fugiu das regras aqui. Ele considerou exatamente o que está como uma das últimas regras que cita no texto que eu resumi acima.

Daí o 'salto quântico' da sua interpretação (aquilo que ninguém diz em texto nenhum e que nos deixa doidos pra começar a usar no dia a dia) é considerar essas variáveis:
  1. A Lua está no sexto signo, que significa doença
  2. Ao mesmo tempo, a lua está na quarta casa a partir de Vênus, regente do Ascendente, que significa os membros da família.
  3. Soma-se a isso, que a Lua significa mãe

Portanto, essas três informações permitiu a Māshā'allāh concluir que o consulente pensava na doença da mãe.

E agora, vem uma questão muito capciosa: após descobrir a intenção pela lua e pelo regente do ascendente, ele diz como a questão vai terminar pelos mesmos planetas. Isso pode confundir um pouco a cabeça do estudante: afinal de contas, desfecho é uma coisa e intenção é outra. Só que, nesse caso, os significadores escolhidos para a intenção seriam os mesmos significadores para se saber o desfecho, isto é, são a lua e o regente do Ascendente. Isso significa claramente que o consulente estava bastante preocupado com a questão e que não havia nenhuma questão paralela










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