14 de jul. de 2023

O homem contemporâneo versus as debilidades essenciais

O homem ocidental contemporâneo interessado em astrologia tem muita dificuldade em aceitar que seu mapa natal tenha alguns posicionamentos considerados ruins. Isso fica mais patente quando se trata de debilidades zodiacais.

Sempre vejo pessoas questionando se realmente o Sol em Libra ou Vênus em Virgem podem estar em queda, e quase sempre personalidades como John Lennon - que tem os dois planetas mencionados nos signos das suas quedas - são evocados como exemplo de que este raciocínio pode ser antiquado e não corresponder à realidade. 

Estes questionamentos decorrem de uma compreensão "holística" e moralista das debilidades essenciais. Como a astrologia no século XX passou a ser abordada sob um viés psicológico, é comum buscar uma contraparte psicológica e comportamental qualquer coisa passível de interpretação num mapa. Portanto, é comum relacionar planetas em detrimento e queda a falhas de caráter. E, como a verdade sempre vem à tona, logo se percebe que esta associação nem sempre é verdadeira. Daí, a reação mais imediata é dizer que astrologia tradicional não funciona no "mundo moderno".

É realmente incrível como o homem contemporâneo se acha especial, "um caso à parte" - como ele acha que um sistema que funcionou por dois mil anos começa a falhar a partir do século XX. A única certeza que tenho sobre a relação entre os séculos XX e XXI e a astrologia, é que nunca antes na história coexistiu e prosperou tantas vertentes diferentes desse saber. 

O que é chamado de "astrologia" hoje é uma Torre de Babel, uma profusão de linguagens díspares ocorrendo e prosperando simultaneamente. Não há consenso sobre muitos significantes e significados, e isso pode explicar por que as debilidades e dignidades dos planetas são tão questionadas. 

Por exemplo, enquanto um astrólogo clássico reconhece Marte como significador essencial de viagens, na Astrologia Uraniana, o midpoint Mercúrio-Saturno é comumente relacionado ao mesmo tema. Se os astrólogos concordassem na significação dos planetas, ficaria mais fácil chegar a um consenso de como estas debilidades e fortitudes dos planetas funcionariam na prática. Pode parecer uma observação tola, mas um olhar mais atento mostra o quão relevante esta observação faz sentido, o que mostrarei a seguir.

Por exemplo, um certo astrólogo recentemente fez um artigo relativizando as debilidades e dignidades essenciais - de que elas seriam boas ou ruins não absolutamente, mas a depender de um contexto. E, claro, o mapa do John Lennon foi citado. 

O questionamento sobre o mapa de Lennon e de outros músicos decorre de terem Vênus posicionado no signo de Virgem, considerado o signo da queda de Vênus. "Como pode Vênus em Virgem ser ruim se ela está presente nos mapas de músicos como John Lennon e Leonard Cohen?"

Primeiramente, Vênus é um planeta que significa apreciação estética. Para ser um músico, ficando com os dedos calejados de tanto apertar as cordas de um violão ou guitarra, estudar teoria musical e acordes, não basta apenas Vênus. Em verdade, a tradição nos mostra que Vênus em combinação com Mercúrio - sendo obrigatoriamente um deles o significador profissional - representa músicos.

Como disse acima, no exemplo de Lennon nós percebemos de cara a inconsistência entre os diferentes astrólogos. Eles reputam Vênus como significadora de músicos, quando na verdade sua posição isolada refletiria outras coisas. 

Felizmente, é consenso entre os astrólogos que Vênus é a significadora de casamento e sexo no mapa, além indicar confortos, apreciação estética e prazeres em geral. E podemos nos questionar se Vênus poderia representar alguma coisa relacionada às mulheres de John, ou talvez uma delas em particular, Yoko Ono. Infelizmente, o mapa de Lennon tem o horário de nascimento um pouco controverso, então não posso falar mais nada dessa Vênus além da sua significação essencial de amor, sexo, parceiras e casamento.

Um planeta em queda pode indicar humilhação ou origem humilde daquilo que representa. Filha de magnatas japoneses do petróleo, Yoko poderia ser tudo, menos de origem humilde. Mas a perseguição e as críticas que ela recebeu desde que passou a se envolver com John podem ser muito bem representadas por esse posicionamento no mapa do seu parceiro. Essas críticas tendem a colocar Yoko como objeto de ridicularização (devido aos seus discos com algumas propostas avant garde) e até como a culpada pela separação dos Beatles. 

Talvez Yoko nunca tenha se importado com estas críticas, mas elas dominaram o mainstream da imprensa, crítica musical e senso comum por décadas. E talvez dominem por muitos anos mais, mesmo com evidências cavalares contradizendo-as, como o documentário Get Back





Um comentário:

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