30 de jan. de 2020

A casa e seu regente: como interpretar?

Como é sabido pela maioria dos estudantes de astrologia, existem os signos, os planetas e as casas. Os planetas mantem um elo com as casas através das inúmeras regências encontradas na astrologia clássica - domicílio, exaltação, triplicidade, termo, face, dodekatemoria, monomoiria. Para estudar um determinado assunto na vida da pessoa, a ligação das casas com os planetas através da relação de regência domiciliar é a mais usada, desde os primórdios da astrologia.

Uma vez se ligando um planeta a uma casa através da regência, o estudante se depara com uma aparente ambiguidade: passa a haver dois significadores para um mesmo tema. Por exemplo, tanto a casa 7 quanto o regente da mesma podem significar parcerias. Sendo assim, qual seria o mais importante: o regente ou a casa?

Não é uma questão de importância, mas de quem vem primeiro.

Quem vem primeiro: o ovo ou a galinha?


A resposta a essa pergunta, se levada a sério, é o ovo: um ancestral da galinha pôs um ovo e, dele, saiu um bicho diferente do seu pai, que seria a galinha como conhecemos hoje. Com os planetas e as casas, é a mesma coisa: o ovo é o signo/casa, que vem primeiro, seguido da galinha/planeta. Ambos são importantes para se definir um tema, mas temporalmente a casa vem primeiro, e depois o planeta regente do signo.

Essa doutrina está presente em vários autores ao longo da história da astrologia. O primeiro do qual me recordo aqui é Rhetorius, no século VI (possivelmente, autores nos quais ele se inspirou deveriam ter o mesmíssimo raciocínio):

Esse mesmo padrão de pensamento pode ser visto em Johannes Schoener, no século XVI. Ora, se chegou a Schoener, pense em quanta gente divulgou isso ao longo dos séculos.

Portanto, a casa representa o começo de um tema, enquanto o regente representa seu fim. Se a casa é bonificada com a presença/aspecto de benéficos, mas o regente está aflito, então temos em mente que o assunto começa bem e termina mal. Mutatis mutandis para o contrário. Esse raciocínio não se aplica apenas a casas, mas a lotes e até mesmo para  planetas, uma vez que todo planeta tem um outro planeta do qual lhe é dispositor, mesmo que seja o próprio.

E é dessa ideia que vem uma outra doutrina, a do planeta aspectar sua própria casa.

Se o dono não olha, o porco não engorda.

Os indianos dão muita importância ao fato de um planeta aspectar sua própria casa, pois isto significaria que a casa estaria mais protegida do que se não fosse. Fica difícil quantificar esse grau de proteção, mas existe uma outra coisa mais palpável e que se enquadra perfeitamente na ideia discutida anteriormente.

Ora, se a casa significa o início e o regente o fim, quando um regente não aspecta sua própria casa, há uma descontinuidade nos assuntos da casa. Isso pode significar literalmente que a primeira manifestação da casa não prospera, dando lugar a uma outra manifestação.

Por exemplo, minha casa 9 está em Sagitário, e o regente domiciliar, Júpiter, está em Escorpião. Ora, Escorpião não se conecta com Sagitário de forma alguma, portanto o regente da casa 9 não se conecta com a mesma. Isso indica uma descontinuidade dos temas de casa 9, e pode ser visto na minha vida: eu me envolvi com o cristianismo de forma intensa na infância e na adolescência, tendo esse envolvimento diminuído quando cheguei à maioridade. Aos 21 anos, conheci a astrologia, um outro significado da casa 9, e este prospera até hoje. Nunca rejeitei e nunca renunciarei ao cristianismo, mas é evidente que a forma anterior de envolvimento não existe mais.

Quando o regente se manifestaria?


Com essa categorização, resta saber quando o regente se manifestará, uma vez que os eventos indicados pela casa começariam (em tese) já no instante em que a pessoa nasce.

Não há uma resposta categórica por parte da tradição a essa pergunta, mas uma pista interessante pode ser encontrada na doutrina das ascensões do signos e dos anos menores dos planetas.

A doutrina da ascensões já está presente em Vettius Valens e, confesso, ela me é um tanto confusa, porque o autor não dá claramente o raciocínio da escolha dos períodos. Fica parecendo uma escolha deliberada após o fato ter acontecido, então me soa um tanto sem praticidade. Descrevê-la é muito simples. Só não garanto que a prática será satisfatória.

Atribui-se uma quantidade de anos a cada signo e a cada planeta. Essas quantidades de tempo às vezes, são somadas, às vezes não. Quando se somam, podem ser divididas em dois ou três. Então temos três possibilidades:

Eventos acontecendo no final dos anos menores de um planeta.
Eventos acontecendo no final das ascensões de um signo (Ascensão oblíqua do signo para o local de nascimento) convertidos em anos
Eventos acontecendo quando se somam os anos menores de um planeta num signo e as ascensões do signo deste planeta


Por exemplo, na minha natividade, áries ascende, e temos o sol ali, regente da casa 5. Os anos menores do sol são 19, as ascensões de áries para o Rio de Janeiro, localidade natal, são 32. Se somarmos 19 e 32, temos 51 anos ordinais. Portanto, o Ascendente e os temas solares, em combinação, estariam ativos até os 50 anos (cardinais). Em seguida, o regente do ascendente tomaria a cena na representação do que aconteceria com os significados do Ascendente.




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